quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

O Egocêntrico e o Poder.


  • Nesse fechamento do ano, enquanto fazia minha fachina anual no meu quarto com o intuito de descartar aquelas coisas que não mais tem finalidades, ouvia na televisão um breve comentário sobre o fechamento do encontro de Copenhagen com a finalidade de emitir um documento mundial que traçasse metas para a redução das emissões de carbono.
  • Comentava a reporter que pouco havia a ser comemorado desse encontro, enquanto os países ricos se negavam a assumir a responsabilidade pelas emissões de carbono no último século, às vezes chegando a questionar se isso realmente estaria relacionado com o aquecimento global, ou se esse aquecimento não seria apenas consequências naturais de mudanças climáticas, já os países em desenvolvimento pouco ou nada poderiam colaborar uma vez que a redução da queima de materiais fósseis invariavelmente refletiriam em um desaquecimento da econômia, compromentendo ainda mais suas precárias estruturas.
  • Na sequência, já em outra reportagem era comentado o resultado favorável da econômia, uma vez superada a crise ocorrida no início do ano, o crescimento global deveria ser retomado.
  • Apreciando minha fachina, pude me deparar com uma pilha de plásticos, embalagens, papéis etc.. cuja única finalidade seria encaminhá-los à reciclagem do que é possivel, é claro, a econômia mundial evidentemente agradece essa atitude, afinal o descarte de coisas velhas invariavelmente acarreta no consumo de coisas novas e consequente mais emissão de poluentes.
  • Pouco acompanhei do ocorrido em Copenhagen, mas em momento nenhum cheguei a ouvir o que em minha ignorância parece ser o mais óbvio, para se reduzir a emissão de poluentes, é essencial a diminuição do consumo, mas afinal porque ouviria algo semelhante, se à minha frente estava o resultado desse excesso de produção, reduzido a lixo e meu pensamento na noite anterior era o que eu me daria de presente para esse início de ano, que invariavelmente seria o lixo à minha frente no próximo ano.
  • Felizmente parece que a econômia está no caminho de um novo crescimento, claro que isso é positivo, mais empregos, mais impostos, diminuição da pobreza... Que esse crescimento seja acompanhado de nosso nível de consciência acerca de nossa posição nesse Universo.
  • Tem sido rotina ouvir do poder público as responsabilidades individuais aos danos que provocamos ao meio, por outro lado pouco se vê desse poder seja público ou privado ações que viabilizem a esses individuais a possibilidade de diminuir o impacto ambiental daquilo que produzimos.
  • Apreciando minha pilha de lixo, simplesmente não tenho o que fazer além de jogá-la em algum container dos pouquíssimos que existem à disposição e talvez uma pequena parte dessa pilha seja reciclada, nas ruas simplesmente me deparo com outras pilhas maiores que as que estão sobre meu tapete que invariavelmente terminarão nos aterros sanitários.
  • Espero que esse encontro em Copenhagen abra portas para um maior nível de consciência, desenvolvimento não se mede só pela econômia e sem qualquer dúvida esse modelo econômico não é compatível com cuidados ao ambiente, resta desejar sair dessa fase egocêntrica e nos percebermos em um mundo de relações, com nós mesmos e com esse Universo vivo pulsante.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Da Simbiose ao Mundo das Relações - continuação




O egocêntrico e as raizes perversas.

  • Hoje pela manhã, ainda antes de desejar um bom dia a algum conhecido fui surpreendido por uma manchete em um desses jornais matinais, sei que já deveria estar acostumado com essas notícias, mas ainda me permito a perplexidade frente a condutas que beiram o absurdo.
  • Um senador da oposição estava respondendo para um reporter que seu partido não tinha e não podia ser responsabilizado por um recente escândalo envolvendo políticos de sua base partidária.
  • O curioso é que muitas vezes presenciei esse mesmo senador emitindo calorosos discursos responsabilisando tanto o governo como a base partidária que o compõe de escândalos da mesma ordem da qual seu partido agora está envolvido.
  • Fosse enumerar esse tipo de evento, seja envolvendo aqueles que compõe o governo ou a oposição sem dúvida seria possivel escrever várias enciclopédias, mas esse é um exemplo que denota claramente o funcionamento mental do perverso, fixado na fase egocêntrica.
  • As regras sociais são claramente entendidas e internalizadas, mas elas o são só para os outros, são os outros que estão submetidos a essas regras sociais, o perverso sempre está isento delas, sem qualquer ressentimento ou sentimento de culpa.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Paris, Texas. Há 25 anos...

  • Há 25 anos estreava um épico de nossa cultura, sem dúvida um filme a ser assistido. Passado um quarto de século sua temática permanece atual, praticamente desprovido de diálogos, as imagens e o fundo musical falam pelo filme.
  • Desaparecido há quatro anos, Travis vaga pelo deserto, sem rumo, encontrado pelo irmão é trazido à cidade onde ocorre sua reaproximação com o filho, que foi abandonado por ele e pela mãe Jane, ficando aos cuidados do irmão de Travis e sua mulher.
  • Jane e Travis quando se conheceram viveram uma paixão intensa e destruidora que culmina com a separação e abandono do filho, mas em momento nenhum essa paixão cede.
  • Após se reaproximar do filho, Travis continua sua saga, agora com sua companhia, até se reencontrar com Jane, nesse breve encontro com um desfecho inesperado, Travis deixa o filho aos cuidados mãe e volta a vagar solitário.
  • Além da paixão vivida por Travis e Jane e da solidão vivida pelos personagens, um dos focos do filme é a alienação social que permeia praticamente todos os personagens deste.
  • Alienação essa que nesses 25 anos após o lançamento do filme, parece ter-se acentuado praticamente em todos os segmentos de nossa cultura.

  • Fonte:
  • Paris, Texas.
  • Win Wenders, 1984.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

De Metrópolis a Blade Runner.


  • Cerca de sessenta anos separam estes Épicos de nossa Cultura. Em ambos, há um contexto no qual as máquinas se humanizam, enquanto os seres humanos se mecanizam.
  • Em “Metrópolis”, um robô adquire sentimentos; já em “Blade Runner”, humanóides criados em laboratório para servirem de mão de obra em outros planetas, buscam os caminhos da longevidade aqui na Terra e, no processo, se humanizam.
  • Em ambos, aqueles que representam os humanos mais parecem máquinas a serviço de um Sistema no qual não passam de meras engrenagens.
  • Decorridos praticamente 90 anos do lançamento de “Metrópolis” e cerca de três décadas de “Blade Runner”, os ambientes que ocupamos muito se assemelham aos expostos no primeiro, enquanto que a tecnologia à nossa disposição é parecida com a utilizada no segundo.
  • Como protagonizado nos dois, uma maioria parece largada ao acaso, enquanto aqueles que ocupam o topo da pirâmide de nossa sociedade habitam condomínios fechados e centros igualmente fechados, seja de prestação de serviços ou de compras e lazer, cercados pela segurança e tecnologia de ponta, evidentemente estruturadas em cima dos recursos que, ao menos em parte, seriam dessa grande maioria aparentemente largada ao acaso.
  • Quanto à tecnologia expressa em “Blade Runner”, tal como no filme, em nossa sociedade ela se democratizou. Em um mundo cindido, onde ao mesmo tempo em que se tem altíssima tecnologia, com a qual, por exemplo, com o alcance de nossos dedos podemos imediatamente nos comunicar com outra pessoa localizada em qualquer lugar do planeta, ou até fora dele, por outro lado não se consegue democratizar na mesma proporção o bem estar social que essa tecnologia poderia ajudar a propiciar.
  • Em relação à teoria psicanalítica, os dois filmes poderiam ser analisados e interpretados levando-se em conta o ponto de vista Narcísico ou ainda a degradação humana dado a lógica psicótica ou perversa de um avanço tecnológico desenfreado e sem controle.
  • Porém o que mais me chamou a atenção foi o tempo que separa os dois filmes, que se mistura com meu tempo psíquico envolvido em minha resistência em discorrer sobre esse tema que tanto me fascina.
  • Décadas separam o lançamento dos dois filmes, igualmente décadas separam o lançamento do segundo filme até essa breve análise. Um tempo significativo os primeiros esboços desse texto ficaram registrados em minha agenda até que eu resolvesse dar um acabamento a eles.
  • Em minha agenda, esses esboços permaneceram misturados com as demais anotações do meu dia a dia, que se misturaram ao kaos social no qual os dois filmes estão inseridos.
  • Kaos semelhante permeia meu psiquismo na transição de um ser com tendências a tecer análises sociais a um outro que vaga em busca de uma formação psicanalítica.
  • Outro tempo de espera entre a revisão do texto e minha concordância com a sugestão de um colega no sentido de esboçar um teor psicanalítico ao artigo.
  • Não tenho dúvidas de que todos esses tempos se misturam nessa minha transição entre um eu apoiado em visões sociais para um eu embasado em teores psicanalíticos.
  • Fontes:
  • Blade Runner, o caçador de andróides
  • Estados Unidos, 1982
  • Direção: Ridley Scott
  • Metrópolis
  • Alemanha, 1927
  • Direção: Fritz Lang

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Dia dos professores.


  • Há pouco estava vendo o jornal e entre as resportagens vi destacado uma singela homenagem ao dia dos professores, acompanhado de inúmeras críticas à qualidade do ensino, seja nas escolas públicas ou privadas e como já estou acostumado essas críticas foram restritas às escolas, professores e às tecnicas pedagógicas: problemáticas, ultrapassadas e pouco eficientes.
  • Infelismente, mais uma vez não presenciei, nenhum comentário sobre um dos pontos fundamentais, que fazem com que qualquer metodologia utilizada na educação seja falaciosa.
  • Aqui, estou refletindo sobre aquela educação que nenhuma escola jamais terá a competência de transmitir, que é aquela adquirida no seio da família, onde conceitos básicos de afetividade são internalizados, sem a utilização de nenhum material pedagógico.
  • Aquele que proporciona à criança maturidade o suficiente para dar os primeiro passos para viver em sociedade, saber respeitar aqueles que a rodeiam, sejam outros alunos, professores e as demais pessoas, bem como saber como fazer-se respeitada.
  • Lembro-me do meu extinto curso ginásial, uma comunidade muito pobre, alguns professores evitavam indicar livros, dado a precariedade de recursos dos pais, assim, incansavelmente enchiam os quadros negros de conteúdos e apressadamente a gente copiava com dificuldade de acompanhar o ritmo dos professores, na sequência vinha os infindáveis questionários.
  • Longe de defender tais métodos, mas ainda com sua precariedade, parte significativa dos alunos aprendiam pelo menos o fundamental, pois o essencial para a aprendizagem que é ter maturidade o suficiente para conviver nesse ambiente escolar, já havia sido adquirido no seio da família.
  • Hoje percebo que os alunos muitas vezes chegam às Universidades, sem ainda terem adquirido essa maturidade, e assim nenhuma metodologia de ensino parece ter uma eficácia esperada.
  • Sinto que já nascemos com os conhecimentos necessários para fazermos filhos, mas são poucos que em toda a sua história de vida conseguem adquirir afetividade e conhecimento suficientes para serem pais.
  • Precocemente, adolescentes que desconhecem regras básicas sejam de gramática ou aritmética, e tão pouco tenham tido no seio da família afetividade suficiente para terem desenvolvimento emocional para conviverem em sociedade, já estarão entregando os seus filhos às escolas para que essa cumpra o papel que seria deles, de "educar" seus filhos.
  • Efetivamente, nenhuma escola jamais terá essa competência.